Enel retoma cobrança por uso de postes e conta de internet pode aumentar 70%
A Enel Ceará retomou a cobrança de até R$ 78 por uso dos postes pelos
provedores de internet. A empresa deu até o fim de novembro para que as novas
condições sejam aceitas. O impacto estimado pelos provedores é de uma conta de
internet 70% mais cara para os usuários e também de falência no setor.
"As empresas vão fechar, 100 mil pessoas vão ficar desempregadas e 5
milhões e 600 mil pessoas vão ficar sem Internet, e o restante da população vai
pagar 6 vezes a mais do que o que pagam hoje. Além de energia cara e ruim,
teremos Internet cara e ruim, ou ficaremos sem Internet", afirma Davi
Leite, presidente da União dos Provedores do Ceará (Uniproce).
Ele ressalta que 70% das conexões de internet feitas no Estado são viabilizadas
a partir dos pequenos provedores.
Entrar na Justiça para equacionar os interesses já é considerado
pela Uniproce e pela Associação Brasileira de Provedores de Internet
e Telecomunicações (Abrint) também.
O debate sobre um novo valor para o uso dos postes para a instalação de fibra
óptica era conduzido desde fevereiro em um grupo técnico formado por
associações, provedores, Enel e também a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
No entanto, o entendimento entre eles não aconteceu e, nesta semana, a Enel
Ceará enviou um informe às empresas de telecomunicações sobre novos valores
para o compartilhamento de infraestrutura, retomando os valores estabelecidos
antes da discussão, na noite de ontem, 19.
A cobrança foi alvo de protesto pelos provedores no Ceará e gerou ainda
promessas de mediação na Assembleia Legislativa do Estado, o que não aconteceu
a contento das partes.
Pressão no Ceará
“O Ceará é referência em qualidade de internet e um movimento desse da Enel
encarece o valor para os usuários. Pelos cálculos, o valor da conta mensal pode
aumentar em 70% no Estado”, afirma Mauricélio Oliveira, presidente da
Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).
A pressão exercida pela Enel para a cobrança acima da média nacional, de acordo
com ele, existe apenas no Ceará. A empresa detém, no entanto, a concessão da
distribuição de energia no Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás também.
Valores médios de referência até chegaram a ser estabelecidos por Anatel e Aneel,
de R$ 3,19 por poste, de acordo com ele, mas apenas o Paraná adotou a tabela.
Com os novos preços, a Enel aumenta em seis vezes o valor cobrado atualmente.
“Em Minas Gerais, passa de R$ 15 o ponto de fixação de postes, mas como a Enel
quer no Ceará é absurdo e não tem como aceitar”, reforça.
Falência
Já a Uniproce estima uma falência dos pequenos provedores do Estado em um prazo
máximo de dois meses a partir da imposição da cobrança.
“O posicionamento da Uniproce é no sentido de rechaçar qualquer nova cobrança
imposta pela Enel, vez que inviabilizará as operações de empresas provedoras de
Internet, causando o retrocesso no acesso ao mundo digital pelo Cerá (que é hub
de conectividade), considerando que 70% do acesso à Internet do Estado é
provido por pequenas empresas de Internet”, afirmou Ana Aguiar, diretora
jurídica da associação.
Ela contou que a Uniproce entrou em contato com o conselheiro Vicente Aquino,
da Anatel, que prometeu levar o assunto à sede da Agência, em Brasília.
Carretadas e protestos
“Nós estamos atacando em todas as frentes”, disse a diretora, afirmando que
contatos e reuniões estão sendo feitas com Anatel, Aneel, Ministério Público e
também uma ação coletiva será movida pela Uniproce para barrar o aumento.
Aguiar afirmou ainda que uma agenda de carretadas e protestos está sendo
montada pelos pequenos provedores. O objetivo é ter o apoio da população e de
políticos para tentar frear a medida da Enel.
O que a Enel diz
Ao O POVO, a Enel destacou que "as negociações dentro do grupo de trabalho
não prosperaram e a Enel mantém sua última proposta para os provedores que
tiverem interesse, com redução de até 80% do previsto no contrato."
"A companhia esclarece que não está realizando qualquer cobrança indevida
ou nova taxa. A cobrança pela instalação de cabos e equipamentos já está
definida nos contratos de Compartilhamento de Infraestrutura previamente
assinados pelas empresas de telecomunicação do Ceará com a distribuidora e está
nos termos da Resolução Conjunta Aneel/Anatel nº 4/2014 e também a Resolução
Normativa 797/2017", concluiu.
Fonte:
O Povo