Exumação do corpo de Bárbara de Alencar é suspensa devido a falsas informações sobre procedimento
Mumbai
Ahmedabad
Pesquisadores
querem reconstruir do rosto de Bárbara de Alencar — Foto: Biblioteca Nacional
A exumação do corpo de Bárbara de Alencar, prevista para
ter sido realizada quinta-feira (25), na cidade de Campos Sales, na região do
Cariri cearense, teve que ser adiada devido “a uma resistência de uma pequena
parte da população”, conforme explicou o presidente do Instituto Cultural do
Ceará (ICC), Heitor Feitosa. A missão pretendia exumar o corpo da heroína para
fazer sua reconstituição facial através de computação gráfica em 3D.
Heitor detalha que um vídeo divulgado nas redes sociais foi
“mal interpretado pela população”, que temeu que o corpo fosse retirado
definitivamente do distrito de Itaguá, onde os restos mortais estão sepultados.
Esse receio da população é antigo. Em outubro de 1997, uma
ONG de Exu tentou levar o corpo da pernambucana para Exu (PE), cidade em que
Bárbara de Alencar nasceu.
“É boato. Informação falsa”, garante Feitosa. Segundo ele,
a exumação duraria poucas horas. “O corpo não sairá do local. Após a urna ser
aberta, os pesquisadores fotografam o crânio, por cerca de 20 minutos, e depois
fecham novamente a urna. É um trabalho sério, rápido”, garantiu o presidente do
ICC.
Após a resistência encontrada em Campos Sales, o grupo de
pesquisadores retornou até ao município de Crato, também na região do Cariri, e
aguarda um novo desfecho. “Vamos esperar, se tivermos o convite, retornaremos à
cidade”, pontua Heitor.
O professor José Luís Lira, que integra a equipe de pesquisadores,
explicou que a missão, que já contava com a permissão do bispo do Crato,
responsável pela capela em que Bárbara foi sepultada, era “pra ser discreta”.
Luís já integrou outras expedições do gênero e trabalhou, inclusive, na
reconstituição facial de Maria Madalena, Santo Antônio e Dom Pedro I.
Reconstrução
da imagem
Lira conta que, caso a exumação seja realizada, os
pesquisadores podem se aproximar de uma imagem fiel da heroína, considerada a
primeira mulher presa política do Brasil.
“Se encontrarmos o crânio, conseguiremos realizar o
procedimento. De acordo com o que for encontrado do crânio, a precisão da
reconstituição pode chegar até a 92%. Não conseguimos atingir os 100% devido ao
cabelo, por exemplo. Não temos como saber como era o cabelo, cílio, sobrancelha
dela, por exemplo”, observa José Lira.
Deve ser realizado, nos próximos dias, uma audiência
pública para tratar sobre o assunto. Enquanto o imbróglio não se resolve, o
rosto de Bárbara de Alencar, que participou ativamente da Confederação do
Equador e da Revolução Pernambucana, movimento de emancipação que lutava pela
separação do Brasil e Portugal, segue um mistério. Atualmente, existem apenas
duas pinturas da face de Bárbara, feitas pelo pintor Oscar Alencar.
Trajetória
da heroína
Nascida na Fazenda Caiçara, em Exu (PE), Bárbara de Alencar
se mudou, ainda jovem, para o Crato, onde trabalhou como comerciante. Ela foi
uma das lideranças da Revolução Pernambucana no Ceará, movimento
emancipacionista que eclodiu em 1817 e lutava pela separação do Brasil de
Portugal. Graças a sua participação, foi presa e torturada em uma das celas da
Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Por isso, é considerada a primeira
prisioneira política do Brasil.
Depois, também participou da Confederação do Equador
(1824), movimento separatista e republicado que proclamou a independência de
algumas províncias do restante do país. Bárbara é mãe dos também
revolucionários José Martiniano Pereira de Alencar e Tristão Gonçalves e avó do
escritor José de Alencar. Após peregrinar fugindo da perseguição política, a
comerciante morreu em Fronteiras (PI), e foi sepultada em Campos Sales, cidade
vizinha.
Fonte:
G1 CE
Tags:
Cariri
